Ser feliz é assumir responsabilidades ou cumprir o ritual da vidinha
tranqüila e segura, pregada nas revistas de histórias de sucesso.
Igualmente, preocupa-nos quando alguém diz: ele tem casa, carro, esposa,
filhos, uma empresa e nunca demonstra que está feliz. Acreditamos
que nada pode ser mais deprimente do que tentar sintetizar a vida de
outra pessoa e dar a ela uma conotação de felicidade que ela não tem.
Tentar privá-la do direito de, ainda, aspirar, sonhar, algo diferente
para a sua existência.
É
mais complexo explicar o que é ser intenso. Talvez seja fugir do
conformismo ou abandonar a vidinha tranqüila. Quem sabe mudar de bairro
ou de cidade se for necessário. Quiçá, chutar um emprego, buscar uma
nova profissão. A irreverência em abandonar um estilo de vestuário
quando lhe convier. O desafio de viver um amor impossível. A emoção de
sentir saudades ao desfrutar de uma paixão. A vontade de viajar ou
imaginar-se indo para não mais voltar. Ser intenso é fazer estréia, no
palco da vida, a cada dia ou não ter medo de recomeçar. É acostumar-se a
pequenos impasses, alguns tropeços e acanhadas loucuras. Ser intenso é
desfrutar de uma vida insignificante para muitos, mas intensa para si
mesmo. E naquela insignificância, desfrutar da paz, da qualidade de
vida, conhecer novos lugares, conversar com estranhos, deixar fluir um
lado de mistério sobre a existência e o mundo. Explorar uma nova conexão
sobre a espiritualidade e o Cosmos. Se para ser feliz é necessário
sufocar-se ou morrer um pouquinho a cada dia, preso a dezenas de
obrigações e exigências de toda a ordem, o ser intenso, deseja viver sua
face mais irreverente, procurando por inéditas sensações até o fim da
sua vida. É incompreensível aceitar que o ser intenso não esteja
transgredindo uma cultura social. É fácil afirmar que o ser feliz é mais
sensato, porque condiz com a nossa educação básica. Porém, deve ser
difícil sair de dentro de si mesmo para fazer algo que nunca se fez.
Bem-vindo à dúvida.
(Gilberto Veppo)
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