sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ser feliz ou ser intenso?

  Ser feliz implica, muitas vezes, em cumprir o velho projeto previsto pelos nossos pais ou avós. Ter um bom emprego, um imóvel, um carro, casar, ter filhos e ser reconhecido socialmente. Se conseguir ser um bom profissional, ganhar mais dinheiro e obter algumas ações de empresas, melhor.
             Ser feliz é assumir responsabilidades ou cumprir o ritual da vidinha tranqüila e segura, pregada nas revistas de histórias de sucesso. Igualmente, preocupa-nos quando alguém diz: ele tem casa, carro, esposa, filhos, uma empresa e nunca demonstra que está feliz.      Acreditamos que nada pode ser mais deprimente do que tentar sintetizar a vida de outra pessoa e dar a ela uma conotação de felicidade que ela não tem. Tentar privá-la do direito de, ainda, aspirar, sonhar, algo diferente para a sua existência.
            É mais complexo explicar o que é ser intenso. Talvez seja fugir do conformismo ou abandonar a vidinha tranqüila. Quem sabe mudar de bairro ou de cidade se for necessário. Quiçá, chutar um emprego, buscar uma nova profissão. A irreverência em abandonar um estilo de vestuário quando lhe convier. O desafio de viver um amor impossível. A emoção de sentir saudades ao desfrutar de uma paixão. A vontade de viajar ou imaginar-se indo para não mais voltar. Ser intenso é fazer estréia, no palco da vida, a cada dia ou não ter medo de recomeçar. É acostumar-se a pequenos impasses, alguns tropeços e acanhadas loucuras. Ser intenso é desfrutar de uma vida insignificante para muitos, mas intensa para si mesmo. E naquela insignificância, desfrutar da paz, da qualidade de vida, conhecer novos lugares, conversar com estranhos, deixar fluir um lado de mistério sobre a existência e o mundo. Explorar uma nova conexão sobre a espiritualidade e o Cosmos. Se para ser feliz é necessário sufocar-se ou morrer um pouquinho a cada dia, preso a dezenas de obrigações e exigências de toda a ordem, o ser intenso, deseja viver sua face mais irreverente, procurando por inéditas sensações até o fim da sua vida. É incompreensível aceitar que o ser intenso não esteja transgredindo uma cultura social. É fácil afirmar que o ser feliz é mais sensato, porque condiz com a nossa educação básica. Porém, deve ser difícil sair de dentro de si mesmo para fazer algo que nunca se fez. Bem-vindo à dúvida.
(Gilberto Veppo)

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